RSS

Seis em cada dez trabalhadores trocam de emprego em um ano

08 ago

Diante da alta rotatividade, governo deve mudar concessão de benefícios para estimular permanência no emprego. Até agora o esforço foi para acelerar a criação de empregos formais e os ganhos reais, daqui para frente o desafio será diferente.

Se nas últimas décadas o esforço foi para acelerar a criação de empregos formais e os ganhos reais, daqui para frente o desafio será aumentar a estabilidade nos postos de trabalho. É o que propõe o quarto caderno do estudo Vozes da Classe Média, desenvolvido pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República em parceria com a Caixa Econômica Federal e com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Atualmente, a taxa de rotatividade chega a 60% ao ano entre os trabalhadores que ganham até dois salários mínimos. Sem classificar por ganhos salariais, no total mais de 40% dos trabalhadores deixam os empregos a cada ano.

“Um dos grandes entraves potenciais ao avanço da produtividade do trabalho no setor privado, em particular entre os trabalhadores de baixa escolaridade, é a elevada taxa de rotatividade que tem caracterizado esse setor”, aponta o estudo.

Entre a chamada classe média – fatia da população que vive com renda familiar per capita entre R$ 291 e R$ 1.019 -, um grupo próximo a 43% dos trabalhadores considera o trabalho atual “uma atividade transitória, até conseguir algo melhor” ou diz que “depende dele para sobreviver, pois dificilmente encontraria outro”. Na classe baixa, a proporção entre os que encaram o trabalho dessa forma sobe para 50% e, entre a classe alta, cai para 28%.

“Para os trabalhadores que já alcançaram um emprego formal, a alta rotatividade representa instabilidade e poucas perspectivas de ganhos, tanto de produtividade quanto de remuneração”, diz o estudo.

Unificação de benefícios. Diante da alta rotatividade dos trabalhadores, apurada pelo estudo, vai ser proposto um redesenho da concessão de benefícios de abono salarial e salário-família, para estimular a permanência dos trabalhadores no emprego formal. De acordo com o ministro-chefe interino da SAE e presidente do Ipea, Marcelo Neri, o desafio é enfrentar a rotatividade, que causa problemas como o aumento dos gastos públicos – com benefícios como seguro-desemprego – e queda no investimento em conhecimento do profissional.

“O mercado de trabalho brasileiro teve um desempenho excepcional nos últimos dez anos, mas permanece um grande problema que é a rotatividade. Com isso, as despesas públicas são infladas e vivemos a situação paradoxal de estarmos próximos do pleno emprego, mas ao mesmo tempo as despesas com seguro- desemprego nunca foram tão altas”, disse Neri.

A SAE pretende unificar os benefícios de abono salarial e salário-família, que atingem trabalhadores que recebem de um a dois salários mínimos. Hoje, o abono salarial é recebido pelo trabalhador anualmente. A ideia é que o benefício seja recebido já no mês corrente. Também é proposto que o valor do benefício decline continuamente com aumentos de remuneração “evitando assim a descontinuidade atual em dois salários mínimos”.

“Os dados mostram que só 38% dos que deixam os empregos não se reempregam em um ano”, comentou Neri. Em 2004, essa porcentagem chegava a 50%. “Então o trabalhador saca o seguro-desemprego, saca o FGTS. Encontrar emprego com mais facilidade e ter acesso a benefícios, que precisam de novo desenho, talvez estimulem (a rotatividade).” A proposta, que segundo Neri é uma ideia para ser debatida. “Se eu ganho até dois salários mínimos, trabalho um mês e depois saio, tenho direito ao abono cheio. Depois de um tempo o trabalhador pede para ser demitido, por exemplo, para ter acesso ao seguro-desemprego, ao FGTS, para fazer um curso”, completou Neri.

A nova formulação do abono salarial proposta pela SAE prevê também valor proporcional ao número de meses trabalhados e não independente. Além do redesenho dos benefícios, há previsão também de estimular cursos de formação profissional para trabalhadores ocupados, de 40 horas, com metade das horas cedidas pelo empregador e a outra metade do tempo, do lazer do empregado.

Beatriz Bulla

Fonte: O Estado de São Paulo

 
Deixe um comentário

Publicado por em agosto 8, 2013 em Noticias

 

Deixe um comentário